quinta-feira, 30 de agosto de 2012

MARIGHELLA: O SANTO SEM DEUS



Por Pedro Paulo Rosa
Foto: Divulgação

Um Santo sem Deus. Foi assim que Antônio Cândido sintetizou o líder político Carlos Marighella em seu depoimento para o documentário Marighella (http://www.facebook.com/marighella), que estreou no dia 10 de agosto nas salas de cinema do país. No próximo dia 31 de agosto, será a vez da capital mineira receber a produção; fruto do sonho afetivo da sobrinha do grande revolucionário, a documentarista Isa Ferraz.

O Hélio: Se você fechar seus olhos nesse momento pensando no seu tio, o que chega em primeiro lugar na mente?


ISA FERRAZ: Lembro da presença física dele na minha casa de criança, que era muito forte. Ele tinha mesmo um grande carisma, ocupava a casa toda, cheio de alegria e carinho.


O Hélio: Qual é a importância, para a mentalidade brasileira, das atuações de Carlos Marighela?


ISA: Acho que a grande contribuição de Marighella para o país foi a de ter dado a vida por uma ideia. Ele queria o socialismo e via isso de uma maneira muito ampla: um socialismo mulato, bem brasileiro, com justiça e igualdade, e muita festa. Outra coisa importante foi o fato de ele ter tido a coragem de ir mudando seu pensamento e sua ação de acordo com o tempo em que viveu. Marighella não ficou parado, sectário, fixado em uma ideia. Ele estudou e entendeu o Brasil, mas o Brasil dentro de um contexto latino-americano e mundial.


O Hélio: Acredita que, de que maneira elas ecoam na atuação política da juventude brasileira e mundial?


ISA: Ecoou muito, tanto aqui quanto em outras partes do mundo, principalmente na Europa do final dos anos 60, início dos 70. Mas ele foi silenciado. Seu nome tornou-se maldito. Hoje renasce um interesse por esse homem-mito, cujo nome tem ecoado em várias partes, muito com a contribuição do rap composto por Mano Brown para o filme.

O Hélio: Quando a luta armada passou a ser a única opção de lutar pelo país para Marighella?

ISA: Ele lutou por 40 anos por um Brasil melhor, e tentou as mais variadas formas de luta. Fez muito trabalho de massa, escreveu jornais, livros e poemas, dirigiu revistas, foi deputado estadual eleito pela Bahia em 1946, enfim, tentou de tudo. A luta armada surge como uma última tentativa em função de uma situação muito violenta de ditadura militar, com prisões, torturas, censura, mortes, e dentro de um contexto histórico mundial no qual tínhamos Cuba, Argélia, Vietnã, movimentos negros nos EUA, movimentos estudantis no mundo todo. Só se pode entender a opção de Marighella se se analisa tudo isso. Ele não era um louco que gostava de pegar em armas. Viveu clandestino por décadas e pagou caro por tudo isso.


O Hélio: Percebi na montagem do seu documentário, um olhar familiar íntimo extremamente sensível e cuidadoso. O filme parece ter 15 minutos e mantêm uma adrenalina incrível, né?

ISA: Obrigada. A história tem muita energia, Marighella é um grande personagem.


O Hélio: Como se deu o seu interesse para filmar a memória do seu tio? Desde sempre ou isso        se estalou dentro de você em um determinado momento da sua vida?


ISA: Venho pensando nesse documentário há muitos anos. Fiz um primeiro roteiro em             1986, mas não consegui recursos para o filme. Com a proximidade do centenário de            Marighella – que, se vivo, completaria 100 anos em 5 de dezembro do ano passado –   achei que havia chegado a hora. Ao todo, foram mais ou menos 3 anos de muito    trabalho, com uma equipe pequena, mas muito boa.

O Hélio: Pretende replicar cópias do documentário para departamentos de História das             universidades brasileiras?


ISA: Sim, vamos preparar o dvd com alguns extras e distribuir.
           

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