segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NOSSA VIDA É NOSSA PRIMEIRA FICÇÃO




Por Pedro Paulo Rosa
Foto: Lilo Clareto
Revisão textual: Paulo Cappelli

     
      Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista, é a convidada d’ O Hélio. Dentre os mais de 40 prêmios nacionais e internacionais recebidos pela sua carreira desenvolvida na estrada do jornalismo e da literatura da notícia, aqui vamos ficar com o seu lado romancista.
“Uma Duas”, romance de estreia de Eliane, é a sua primeira obra ficcional, publicada neste ano. Com uma maneira direta de colocar a emoção dentro das letras, a palavra que salta mais alto durante a leitura de “Uma Duas” é o desespero do novo, do medo de lidar com o incerto, como mesmo diz o livro, a vida tem grandes chances de se tornar um grande mal entendido. Uma filha tentando ser mulher, e uma mulher não querendo parar de ser mãe. A ponte que as separa e interliga é belamente construída pela sensibilidade de Eliane Brum.
     
O HÉLIO: Qual o primeiro contato de Eliane com a literatura?

ELIANE BRUM: Acho que o meu primeiro contato com a literatura foi por inveja. Eu nasci meio temporona e meus pais e meus dois irmãos já liam. E liam muito. E, enquanto eles liam, a minha vida – a vida de quem não lê – era muito árida. Lembro deste sentimento de estar fora do mundo, porque não tinha acesso aos livros. Quando aprendi a ler, a vida se tornou possível. Eu passei a habitar a literatura, mais do que o mundo real. E então pude ser outras, viver outras vidas e existir em outras paisagens.

O.H.: O lugar de origem, Ijuí, te influenciou de alguma maneira em suas produções?

ELIANE: Sim, Ijuí até hoje é o lugar onde testemunhei e ouvi as melhores histórias de toda a minha vida. Gabriel Gárcia Márquez deve ter passado por Ijuí em algum momento para escrever Cem Anos de Solidão (risos). Um dia ainda vou contar as histórias reais de Ijuí e todos vão pensar que é ficção.

O.H.: O Jornalismo foi mais uma escolha e um esforço ou uma consequência natural oriunda de práticas?

ELIANE: O jornalismo entrou na minha vida um pouco por acaso, muito por sorte. Eu fui me inscrever para Informática no vestibular e alguém mais inteligente que eu, mas que morava dentro de mim, assinalou Jornalismo. Até bem perto de me formar tinha certeza de que não servia para ser repórter. Era muito tímida e não tinha vontade de escrever histórias sobre homens que mordem cachorros. Então, conheci um professor, Marques Leonam, que me disse que era possível escrever sobre as pessoas comuns, a vida que se repete. Eu fiz uma reportagem para a disciplina deste professor no último semestre da faculdade, sobre as filas que todos nós entramos desde que nascemos até morrermos; esta reportagem ganhou um prêmio num concurso entre universidades da região sul do país; o prêmio era um estágio na Zero Hora de Porto Alegre; e lá eu fiquei 11 anos, descobri que ser repórter é a melhor profissão do mundo e a primeira história que reescrevi foi a da minha própria vida.

O.H.: Quando que a Eliane escritora despertou para si mesma?

ELIANE: Eu sempre escrevi com os olhos e os ouvidos, mesmo antes de ser alfabetizada. Desde pequena gosto de olhar e de escutar. E desde pequena percebi que o mundo era desigual e doía por causa disso. A escrita para mim é uma maneira de dar sentido ao caos da vida, que não tem sentido algum exceto o que a gente inventa para ela. Nossa vida é nossa primeira ficção.

O.H.: No caso do seu esperado primeiro romance, a temática da mãe e da maternidade; bem como a relação aflitiva e ansiosa entre a filha e as várias representações que fazia da mãe nortearam um livro psicológico, denso e extremamente belo no conjunto de imagens que a narrativa propõe. Por que estrear falando de mãe, falando de morte?

ELIANE: A necessidade de escrever ficção ficou clara para mim depois de trabalhar por dois anos com a questão da morte na reportagem. Não a morte violenta, amplamente coberta pela imprensa, mas a morte que a maioria de nós terá, por doença e por velhice, e por ser a morte da maioria é tão calada na nossa época. Esse profundo confronto com a morte fez transbordar um não-contado em mim que veio de toda a minha vida, de todas as histórias que eu escutei, vivi, senti, percorri. Percebi ali que há certas realidades que só a ficção suporta. E para dar conta delas, antes que dessem cabo de mim, precisei criar uma voz na ficção. O tema do relacionamento entre uma mãe e uma filha se impôs para mim, de dentro para fora. Escrevi sobre um tema universal e crucial para as mulheres: como uma filha se arranca do corpo da mãe. O José Castello, que fez a primeira crítica do livro no Prosa & Verso, de O Globo, deu um título muito preciso a seu artigo: “Eliane no útero”. Acho que é simbólico que minha primeira ficção seja sobre este arrancar-se do útero.

Capa do livro " Uma Duas"


O.H.: Onde tem marcas pessoais suas ali naquela personagem ou o livro não possui nada de autobiográfico?

ELIANE: Eu sou filha e também sou mãe. Meu romance não é sobre minha relação com minha mãe – nem sobre minha relação com minha filha. Neste sentido, não tem nada de autobiográfico. Mas é claro que tem ecos de todas as experiências que vivi, testemunhei ou escutei em uma trajetória de quase 24 anos como contadora de histórias reais. Eu sou uma olhadeira e uma escutadeira da vida. Meu romance contém essa trajetória.

O.H.: Que leituras, autores têm te acompanhado durante a vida, especificamente, no atual momento?

ELIANE: Eu sou uma leitora obsessiva. Mas também sou uma leitora que só leio por prazer. A leitura para mim é algo tão nobre que não concebo ler por obrigação. Não tenho nenhum prurido de dizer que leio best-sellers quando estou massacrada pelo cotidiano e preciso apenas sair de mim por algumas horas. Mas os escritores que me marcaram e que me acompanham pela vida são aqueles que me transtornaram. E eu tenho fases. Quando gosto de um autor, leio tudo dele. Foi assim com Balzac, Dostoievski e Tolstoi, com Thomas Mann, com Tanizaki, com Jack London, com Raymond Chandler e David Goodis, com Edgar Alan Poe e Lovecraft, com Érico Veríssimo e Jorge Amado, com Gabriel Gárcia Márquez e Mário Vargas Llosa, só para citar alguns.  E, antes deles todos, com Monteiro Lobato e até mesmo com José de Alencar. Hoje, estou tentando conhecer melhor a literatura brasileira e portuguesa contemporânea, autores como Luiz Ruffato, Cristóvão Tezza, Gonçalo Tavares e o prório José Castello, que lançou um primeiro romance lindo. Mas, os autores que espero com mais ansiedade hoje são Ian McEwan, Coetzee e especialmente Philip Roth.

O.H.: Como avalia os desafios que uma pessoa que deseja se aventurar a escrever uma obra literária precisa ter? Foi fácil o processo de escrita, como é que é esse caminhar?

ELIANE: Escrever não é fácil, como quase nada é. É um ato de entrega absoluta – e se entregar não é uma escolha fácil nem sem alto custo pessoal. É preciso estar disposto a mergulhar nos abismos interiores, lá onde moram os peixes cegos, e conseguir voltar de lá. Pelo menos esta é a minha experiência. Enquanto escrevi meu romance, vivi nos subterrâneos de mim e encenei a vida de todo dia. Foi brutal.

O.H.: De que maneira a Eliane Brum enxerga a literatura digital e a tão falada possibilidade do livro formal, impresso, "morrer" ?
ELIANE: Eu adoro cheirar livros, apalpar, acariciar... Mas acho que estou adorando mais ainda carregar um montão de e-books sem nenhum peso físico no meu Ipad, dentro da minha bolsa. Não faço o tipo nostálgico e acho todas essas novas possibilidades excitantes e maravilhosas. Nosso mundo está bem novidadeiro e fico feliz de estar viva para participar disso. A literatura continua no mesmo lugar, é só o livro que muda. Não acho que isso altere a experiência de ler a ponto de alterar a experiência literária. O que altera profundamente – e deve alterar mais ainda – é o modelo de negócio editorial.
O.H.: Acredita que a leitura, a literatura transforme o social de maneira mais efetiva que o esporte?

ELIANE: Nunca pensei em comparar literatura com esporte. Acho que são coisas bem diferentes. Não sei falar do esporte, porque ele não tem um lugar importante na minha vida. Faço Pilates para manter minhas quatro hérnias na coluna vertebral em forma e todo ano prometo que vou fazer mais, mas é só. Sei que pode ser muito transformador para muita gente, mas não conheço o suficiente para falar a respeito. E palpite anda sobrando no mundo. Já a literatura e também a reportagem tenho certeza de que são altamente transformadoras, porque esta é a experiência de mediação com o mundo da qual posso falar com alguma propriedade, não só como escritora, mas principalmente como leitora. Rogério Pereira, editor do Rascunho, e o escritor Luiz Ruffato, inclusive, brincam com a ideia de criar a “Igreja do Livro Transformador”. Basta participar dos saraus de poesia da periferia de São Paulo para ter certeza de que a literatura transforma a vida e abala as relações de poder estabelecidas.

O.H.: Quais as perspectivas para o brasileiro se tornar um leitor pleno?

Educação de qualidade, coisa que nunca, mas nunca mesmo, foi prioridade neste país. Em nenhum governo, em nenhum nível (federal, estadual e municipal). E também não no governo Dilma, como não foi no de Lula e também não foi no de FHC, só para ficar nos governos mais recentes. Em São Paulo, por exemplo, acho que o PSDB deveria ter vergonha de estar há tanto tempo governando o estado mais rico do país e manter uma educação de péssima qualidade. É preciso fazer muito mais do que se faz. E acho que não fazer é criminoso. A boa notícia é que os moradores das periferias, aqueles que frequentam a escola pública e dependem dela, estão começando a fazer por si mesmos. Mas não podem fazer sozinhos. É preciso que o Estado faça – e faça agora – a sua parte. E que a gente pare de votar em quem não faz – e passe a responsabilizar quem não faz. É só pela educação que se qualifica o desejo de um povo. Se a educação fosse melhor neste país, nós teríamos uma literatura escrita muito mais interessante, porque já estive muitas e muitas vezes diante de analfabetos que faziam literatura pela boca. O brasileiro tem uma linguagem sofisticada, riquíssima, cheia de achados, mas, infelizmente, boa parte é analfabeto ou semianalfabeto, mesmo frequentando a escola, e por isso fica apartado do mundo da palavra escrita.

O.H.: Dicas a jovens que sonham em publicar seus primeiros livros. É, de fato, para poucos?

ELIANE: É para quem quer muito. E eu acho que poucos querem muito. Se você quer escrever um livro, você escreve. E, hoje, a internet está aí para “publicá-lo”, se for recusado pelas editoras. E há novas formas de financiamento para projetos de todos os tipos. Mas o desafio é o mesmo de sempre: escrever um livro com qualidade suficiente para que as pessoas queiram lê-lo.

O.H.: A distribuição cultural no Brasil, principalmente via os preços dos livros ainda altos, é desigual. Isso te incomoda de alguma maneira?

ELIANE: Em todos os meus livros, fazer um livro barato é sempre um dos temas centrais da minha negociação com as editoras, assim como lançá-los na periferia com desconto. Por enquanto, tenho conseguido fazer isso na Cooperifa, sarau da Zona Sul de São Paulo. Os livros são muito, muito caros. Mas os livros digitais e a internet já começam a mudar isso.

O.H.: Como conceituaria o jornalismo que pratica?

ELIANE: Como jornalismo.

O.H.: Qual o pensamento que está lhe acompanhando neste momento?

ELIANE: Se estou sendo honesta com o meu desejo e com a minha busca.

O.H.: Durante uma vida experiente e tão diversa em atividades, poderia sublinhar fases de maior dúvida na sua vida? Dúvidas que nos movimentam.

ELIANE: Eu sempre estou duvidando, de tudo e especialmente de mim mesma. É a dúvida que nos move. Fujo de gente com muitas certezas. Especialmente se forem repórteres.

O.H.: O livro "Uma Duas", classificado como um romance, é a história de amor e temor entre uma mãe e uma filha? Qual é o saldo que tira da obra estreante?

ELIANE: Escrevi o que queria escrever. Acho isso muito grande. Agora é com os leitores, já saiu do meu controle.

O.H.: Expectativas: novo livro chega quando?

ELIANE: Não sei. Agora preciso passar um tempo no vazio, para elaborar tudo o que vivi nestes últimos anos, dar um lugar para algumas coisas que permanecem fora de lugar, desacomodar outras que ocupam um lugar que não lhes pertence. É hora de me reinventar de novo.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

GEORGE ISRAEL - o lado compositor do saxofonista do Kid Abelha

Por Pedro Paulo Rosa
Foto: Luana Dias
Revisão textual: Paulo Cappelli
                            
                         

George Israel fala sobre sua carreira solo e sublinha nessa entrevista ao O Hélio o seu lado compositor, autoral. Suas opiniões acerca da produção musical contemporânea mostram um discernimento de quem está experiente nessa larga estrada da arte. Com humildade e vigoroso talento, esse músico traz nuances pouco conhecidas de sua carreira.

O HÉLIO: Explica como nasceu a ideia do projeto 13 parceriais com Cazuza.

GEORGE ISRAEL: Teve um evento em homenagem ao Cazuza e me chamaram para participar. E eu nem sabia o número exatos de canções que eu tinha com o Cazuza. Quando eu fui ver, tinham várias músicas que eu nem lembrava. E aí comecei a rever as músicas, escutar, pegar no violão. Me concentrar, recordar das letras. E fui vendo quanta coisa bacana que estava engavetada, estava solta. De repente, me deu essa vontade de fazer, de naturalmente construir o projeto. Me deu esse estalo, porque a maioria das pessoas não sabia que eu tinha tantas músicas com Cazuza. Algumas canções até inéditas. Muito legal fazer esse mergulho.

O.H.: E como é gravar um disco solo?

GEORGE: Eu já tinha gravado outros dois discos solo e não pensava em fazer outro. Na verdade, você coloca muita energia para construir um disco. Colocar músicas novas. É legal você formar um repertório, mas cansa. Quando apareceu essa ideia das parcerias com Cazuza, eu quis topar e fiz.

O.H.: Se é que dá para ressaltar, o que te marcou mais compondo com Cazuza?

GEORGE: Cara, é uma coisa que foi crescendo. Com esse disco, meio que eu tomei posse dessas músicas. De uma certa forma, não eram músicas que eu usava muito. Até por conta do Kid Abelha mesmo. No nosso CD acústico, gravamos “Brasil”. Depois disso, percebi que as músicas com o Cazuza têm uma força. Frequentei muitos lugares de poesia e neles vi como a minha poesia e a de Cazuza tomavam uma outra dimensão. Comecei a perceber que era um parceiro importante dele e não estava tomando isso para mim, não me via dessa forma. Foi muito boa a aproximação com a Lucinha e com o João (pais de Cazuza). Eles foram muito legais comigo. Sempre me valorizaram muito como parceiro e músico. Fiquei feliz porque você  se associar a alguém com essa validade literária e com essa força que tem a poesia e a força dele é muito bacana.

O.H.: Por que você escolheu o sax?

GEORGE: Cara, não sei se escolhi. Meu lance era compor, tocar violão. Mas, tinha esse lado de jazz, de bossa nova, de música negra. Que são coisas que usam muito sax. Não era um cara que achava que tinha uma musicalidade especial, que era virtuoso em um instrumento. Esse instrumento me veio como uma ferramenta dentro de uma onda de tocar com outras pessoas. O que eu curtia era cantar com outras pessoas. Escolher o sax foi um acaso: estava fora do Brasil, em Israel, Europa, Estados Unidos e não estava com violão. Ouvi uma banda tocando num porão na Alemanha e um dos músicos tocava saxofone. E aí... é um instrumento sedutor, mágico! (RISOS) Curto muito isso. Caixinha de veludo e tal. Aí rolou uma circunstância, uma proximidade. Comecei a tocar sax uns quinze dias depois. Não foi difícil, e com a cabeça de arranjador que tenho isso me facilitou. Com isso, fui direto tocar nas bandas que eu já tinha. A galera ficou amarradaça e eu curti bastante. Porque sax traz um colorido bem gostoso.


      


O.H.: Como nasceu o nome Kid Abelha?

GEORGE: Foi batizado na rádio Fluminense, ao vivo. O programador nos ouviu na hora e não tinha ideia do nome da gente. E a gente era isso mesmo, sem nome, independentes. No Rio estava rolando o Circo Voador bombando. Quando fomos ver, gravamos CD. Chamamos atenção do pessoal da Warner, o Lulu Santos e o Liminha ouviram. O “ Pintura Íntima” nasceu e bombou mesmo.

O.H.: Analisando o rock que você viveu e produziu com o rock de agora, como é que você tangencia essas mudanças? Você acha que o rock dos anos 80 constatava mais do que o rock atual? Me fala da sua visão enquanto profissional da música.

Eu acho que o rock de hoje é um rock de mercado. É uma música que é só uma roupagem de som. Não tem muita distância em termos de... (suspiros) Acredito que todos que tocam curtem a música. Por isso, respeito. Mas, está muito de mercado. Ser comercial não tem o menor problema. Podemos ser comerciais e termos a melhor qualidade. Por exemplo, o Kid Abelha, por ser pop, foi muito criticado. As pessoas achavam que a gravadora impunha que a gente fosse pop. E não foi nada disso. A gente nunca premeditou. As pessoas não entendiam que o ritmo nascia naturalmente. O Kid é bem peculiar. Sinceramente, assim, no mercado a pessoa tem um faro. Como criador, você pode fazer várias coisas. Mas, quando você está começando, tem que conseguir achar as lacunas do que nunca foi produzido. E o Kid achou esse buraco, essa lacuna onde a gente conseguiu criar algo nosso, com nossa linguagem musical. Hoje, essa diversidade deve continuar existir, mas o que eu escuto de rádio atualmente não me emociona. Sinceramente. Tem coisas ótimas em bandas desconhecidas. Mas, naquilo em que o mercado acredita, não me emociona. Nós temos ciclos. Agora, é o sertanejo. Amanhã, será outra coisa, sabe? Mas, tem outras pessoas tocando, fazendo música. Olha o Fred ( Fred Israel, filho de George, que assiste à entrevista ao lado da namorada)  tem uma banda. Acho o seguinte, o rock tem uma coisa que o Blues e o Jazz também tem: é um estado de espírito. É uma onda de som. Pode entrar ou sair moda, que essa onda fica. Quem vai para o lado da música, vive isso de uma certa forma. É uma linguagem de expressão. Agora, daí, você conseguir fazer um trabalho autoral e interessante e ainda conseguir furar o mercado são outros quinhentos. Uma vez fui júri e notei muita gente boa fazendo som excelente. Sempre aparece coisa nova boa.
                         

O.H.: Por exemplo?

GEORGE: O Los Hermanos. Veio depois de nós. E é uma banda que tem um jeito de compor diferente, o approach é outro. É rock brasileiro mesmo. Demorei um tempo para entender, mas depois fiquei amarradão. Eles são misturados. E muito bons. 80 foi muito peculiar.

O.H.: Você, atualmente, então, está conciliando carreira solo com o Kid Abelha?

GEORGE: Sim. Com essa coisa de banda, é mais difícil. Gostaria muito de fazer show todo dia com banda e tal. Mas é impossível. Você vai fazendo tudo. E agora voltou o Kid também depois de três anos. Vi que dá para fazer as minhas coisas. 





     Com visão ampla e reflexiva sobre a música, George Israel transita bem entre os meios alternativos e de grande mídia da música brasileira, mostrando o quanto o rock pulsa como "onda" em sua vida.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MÚSICA NÃO TEM NACIONALIDADE NEM SEGMENTAÇÃO SOCIAL

Por Pedro Paulo Rosa
Revisão textual: Paulo Cappelli


ANA CRISTINA é puro pulsar de leveza e soltura. Carioca da Gávea, ela escolhe a bossa nova para lançar seu primeiro CD, " Acaso ".O instinto para música começou desde cedo. Aos seis anos de idade, tocou no piano de 10 teclas que ficava esquecido na casa de sua mãe. Seu primeiro trabalho carrega  a experiente parceria de Roberto Menescal. 




Foto: Paula Monte
 De tonalidade poética forte, a música de Ana Cristina nos faz lembrar do simples. Permite um silêncio gostoso daqueles que só querem amar e aproveitar da vida as cores mais alegres e doces. A pessoalidade bem como a capacidade de melodiar letras no piano é ricamente executada ao longo de todas as faixas do CD, em destaque para " Querida " e " Flerte carioca ". De fala mansa, mas olhar maduro e firme, a cantora quer ganhar o Brasil com o seu amor pelo Rio de Janeiro e sua entrega total à música - a ponto de não exercer mais a primeira profissão, economia. 

Num sábado à tarde e nublado, conversamos no café cultural Lunáticos, no Jardim Botânico, Rio. 

Ana Cristina: Não era uma criança interessada em boneca. Isso com cinco, seis anos de idade. Sempre quis música. E não venho de uma família de músicos. Minha mãe é médica, escutava muito vinil. Meu avô cantarola Ataulfo Alves. Quem tomava conta de mim quando minha mãe estava de plantão eram meus avós; e então ali tomava bastante contato com a música. Certa vez, numa missa, eu ouvi uma canção chamada O importante é a rosa e anos mais tarde vim descobrir que é uma versão francesa. Toquei essa música em casa aos seis anos. (RISOS) A partir daí, minha mãe resolveu me colocar para estudar. E me deu um piano de presente!

O HÉLIO: Sua composição se tangencia em quê?

Ana: Minha composição vive muito em função do que eu vivo, daquilo que eu acredito. Do caminhar, do chopp na praia... (suspiros). Reencontrar pessoas, sabe? Essa coisa à vontade que nós cariocas temos.

O.H.: O disco tem uma temática forte da saudade, né?

Ana: É, o disco sou eu... Meu processo de composição começou aos dezesseis anos por meio de poesia. E logo comecei a musicá-las. E é complicado encaixar melodia com letra. Inicialmente foi assim, criando poesias e musicando. Sempre no ambiente do meu quarto, sem mostrar para ninguém. A música para mim sempre foi algo muito pessoal.



Foto: Marcelo Correa


O.H.: Tinha vergonha de mostrar para alguém?

Ana: Claro! (RISOS) Minha música é minha verdade. Isso é uma coisa muito pessoal, expôr sentimentos. Tanto bons quanto ruins. Tem que ser muito corajoso para falar o que você sente.

O.H.: Lançar um disco é abrir o peito. Quando você quis isso e por quê? 

Ana: Bem, entrei para faculdade de economia. Mas, antes, tenho que sublinhar meu contato com a música. Estudei no colégio Pedro II e lá fui muito estimulada na música, no piano e tudo mais. Depois, acabei não dando seguimento de cara a uma faculdade de música porque, como a gente já sabe, a carreira de um músico no Brasil é muito complicado. Minha mãe sempre enxergou a música como parte da educação, mas não como uma profissão. Claro, hoje ela está muito feliz pelo lançamento do disco pela Biscoito Fino, mas ela se lamenta por eu não seguir a carreira de economista (RISOS). Muito em função dessas dúvidas, sempre gostei muito de exatas, e escolhi economia. Mas, não me aguentei! No primeiro ano de economia, fui lá e fiz a prova para música na UNIRIO e entrei! Tudo isso em silêncio, não contei nada para ninguém. Mas, ficou difícil de conciliar as duas, fiquei só na economia. 

O.H.: E como o palco entrou na sua vida? 

Ana: Pois é, (RISOS), mesmo não terminando lá na UNIRIO, comecei a fazer aula de canto e dois meses depois estava em cima de um palco! 

O.H.: Como é que saiu essa timidez? 

Ana: Em 2003, subi ao palco para cantar duas músicas, uma delas, minha, o "Flerte carioca". Isso no teatro de arena, em Copacabana. Lembro que eu fechei os olhos e fui! Saí da timidez de fazer música dentro do quarto e cantei para todo mundo os meus sentimentos mais profundos em cima de um palco. Aquilo para mim foi uma explosão! Eu tinha um medo de me sentir ridícula!  O mais impressionante foi a reação das pessoas me escutando, super positiva. Ali, eu percebi que a música era para mim. 

O.H.: Como se deu o encontro com o Roberto Menescal?

Ana: Então, meses mais tarde eu o conheci. Ele estava selecionando meninas para o vocal. Fui fazer testes no estúdio dele, que fica na Barrinha. E fui selecionada. A experiência foi e é maravilhosa. Pude fazer diferentes trabalhos junto com o Menescal. E para mim ele é um ídolo, uma referência da vida inteira. Cantar com ele é muito mágico. 




Ana Cristina e Roberto Menescal. Foto: Paula Monte
  O.H.: Como você sente o público do Rio de Janeiro, hoje, com relação à bossa nova?

Ana: Bem, existe sim uma demanda para bossa nova no Rio. Mas, nos últimos anos, o Rio passou a ganhar muitos espaços para o samba. Eu adoro samba, só que eu sinto que existe um público de bossa nova, mas há poucos espaços. Cheguei a frequentar os finais dos tempos do Mistura Fina, Jazz Mania, Modern Sound. Daí, a Lapa começou a crescer muito junto com o samba e essas casas foram fechado. Acho que isso tem de ser equilibrado. O mercado asiático e europeu adoram bossa nova e aqui no Rio, pelo menos a nova geração, parece não ter tanta oportunidade ou acesso para ouvir bossa nova mesmo em suas múltiplas faces. Sabe, Pedro, escutei de tudo, minhas referências são várias: Commodores, Tom Jobim, Dick Farney, Elton John...mas, certamente, minha preferência é a Bossa Nova.

O.H.: Você concorda com algumas vozes que dizem ser elitista a bossa nova?

Ana: Eu não concordo. Pelo contrário, a falta de espaço é que impossibilita as pessoas de conhecerem. Como eu disse, existe uma geração que não tem conhecimento profundo desse gênero musical. Quando perguntam, só conhecem " Garota de Ipanema ". O mercado ficou restrito à samba e sertanejo. Aí, o que está mais segmentado acaba parecendo elitista. Com mais acesso, nada é elitista. Com música não se faz essa distinção por classe. Acho que a questão é o acesso. Música é música, música emociona, sensibiliza, causa sensações. É tudo uma questão de acessibilidade. Não gosto de definir. 

O.H.: Quando você fala que música é sua verdade, qual é a sua verdade? 

Ana: (RISOS) Olha, eu sou muito mais inspiração do que transpiração. É claro que paro, sento, estudo. Mas, sou uma pessoa que gosto de escrever o que sinto. Procuro primeiro fazer a música e depois vejo o que aquela música me explora de sensação. É de leveza? É de raiva? Minha relação com a composição é sensorial. Busco uma verdade que não vem depois da letra. Vem pela melodia.

O.H.: Isso pelo piano?

Ana: Sim, no piano. Não toco outros instrumentos. 

O.H.: Me conta um pouco a luta para lançar o primeiro disco. Está tentando desde 2007. Não é isso?

Ana: Sim... toquei muito em hotel, em barzinho. Comecei a fazer pequenos shows também. As pessoas vinham no camarim e me pediam material. Quer dizer, perdi muitas oportunidades na época por não ter um material para mostrar. Então, decidi fazer. Ver uma pessoa sensibilizada por algo que você fez não tem preço! 

O.H.: Por que um disco todo acústico? 

Ana: Pois é, eu preferi um disco todo acústico. Chamei o Adriano Souza para fazer os arranjos e ele acabou fazendo também o piano.Não queria recursos eletrônicos, acho mais bonito sem eles, ainda mais como pianista. Sei lá, recursos eletrônicos acabam ficando muito datados dependendo da forma como são arrajados. Quis um baixo acústico, bateria com vassourinha, remetendo às influências das coisas que eu ouvi, entende? Agora, fazer disco é muito caro. A família acreditou muito. Acreditaram no meu sonho. Gravei primeiro cinco faixas, depois a grana começou a apertar. Demorou para finalizarmos tudo. Tem que gravar, mixar, masterizar, criar capa, finalizar. Por fim, ofereci. Bati na porta das gravadoras. Em setembro de 2010, deixei o material na Biscoito Fino. Eles me ligaram em janeiro de 2011. 

O.H.: Como foi que você esperou?

Ana: Ah, como? Com a unha quebrando, com o cabelo caindo, perdendo peso (RISOS). Essa espera é muito tensa. Enfim, o show de lançamento foi na Livraria Argumento, o Menescal tocou. E foi lindo, lindo! Muito mágico. Sabe, felizmente, estamos tendo bons resultados com a mídia, com a crítica. Quando você lança um disco autoral, você não tem a menor noção de como as pessoas vão reagir.  O mais importante é você ser fiel ao que você se propôs a fazer. Não faria diferente. Esse disco teve muito empenho. Amem ou odeiem, sabe? 

O.H.: Você quer correr o Brasil ou você acha que a bossa nova tem um território específico? 

Ana: Certamente, correr o Brasil e o mundo! As pessoas gostam do que elas têm acesso. Posso cantar bossa em Porto Alegre, em Manaus, em Belém, música é sentimento, não há nacionalidade para música. Nem segmentação social! O público não é burro. A gente precisa é dar acesso. E fazer com carinho, determinação e verdade. 

O.H.: Quem te marcou mais que possa sublinhar na bossa nova?

Ana: Posso citar vários! Mas, para resumir, Tom Jobim e Dick Farney. Os dois me tocam muito. São uma referência. O Dick, por exemplo, interpretou músicas de grandes compositores. 

O.H.: Quais as dicas que daria para quem quer se profissionalizar em música?

Ana: Olha, acredito que há espaço para todos. A arte no Brasil costuma a ser vista de forma depreciativa. Por exemplo, se você vai cortar cabelo no barbeiro que é seu amigo, vai pagar a ele. Mas, se você toca violão e um amigo seu te liga para fazer a alegria de uma festa, costuma não querer te pagar nada, só a cerveja.  Não permita nunca que alguém diga que não vai conseguir. Se você faz com verdade, ok. O caminho é muito difícil em qualquer profissão que você for escolher. Seja secretária, manicure, economista ou músico. Geralmente, quando você trabalha com arte, as pessoas costumam te desencorajar. Eu ouvi muitas coisas do tipo " isso não vai dar certo ", " seu estilo está datado demais ". Se você pensar no que precisa, não sai do lugar. O lance é sentar, pensar racionalmente em como conseguir, correr atrás mesmo. As coisas não caem do céu. Aliás, cair até caem, mas é muito raro. Geralmente, as pessoas que te desencorajaram são aquelas que não tiveram a mesma oportunidade, mas que vão estar lá na frente te aplaudindo.

O.H.: " Querida ", última faixa do CD, foi feita para alguém?

Ana: Na verdade, eu estava deitada no meu quarto e surgiu a melodia pronta na minha cabeça! (RISOS) Não foi feita para ninguém. Várias pessoas me falam que essa música foi feita para elas. É bom demais ver as pessoas tocadas por algo que você fez. E é esse o meu objetivo, tocar as pessoas com o poder da música. 

O.H.: Por que o nome do disco é " Acaso "?

Ana: Essa palavra resume o disco. Acaso tem a ver com caminhada, com reencontro, com paquera. E, como meu disco tem uma face bem carioca, acho que essa faixa resume toda a ideia. É isso! (RISOS) 





Foto: Marcelo Correa
 
Ana Cristina percorreu dois mundos em um período de tempo pequeno. Saiu da economia e escolheu a música. Na verdade, o seu destino com a arte estava acertado desde quando, lá na infância, suas mãos de seis anos conheceram as teclas do piano.  

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sábado, 24 de setembro de 2011

JANET MURRAY - o cyberespaço em discussão

    Por Pedro Paulo Rosa e Jhan Lima
    Foto: Luana Dias 
    Tradução: Jhan Lima


      
 
    O Hélio estreia seu entrevistado internacional. Janet Murray, internacionalmente reconhecida pelo seu trabalho de análise das narrativas digitais, fala ao Blog O HÉLIO com entrevista exclusiva concedida pessoalmente no Oi Futuro Flamengo, Rio de Janeiro. Janet é PhD em literatura inglesa pela universidade de Harvard e, atualmente, professora de cursos de graduação e pós-graduação na Escola de Literatura e Comunicação e Cultura do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos.



O HÉLIO - Bem, primeiramente, gostaria de te cumprimentar pela palestra, que foi delicioso te ouvir e que, já que você tem diferentes pontos de vistas e que gosta de compartilhar esse conhecimento. Para começar, por que decidiu fazer uma conferência no Brasil?

JANET MURRAY: Ah, bem... Eu fui convidada. (risos) E eu fiquei excitada em vir ao Brasil, eu acho que o país é um lugar dinâmico e tão maravilhoso, cheio de momentos e é realmente ótimo estar aqui. E sabe, eu ouvi de muitas pessoas, eu tive uma literata brasileira no meu laboratório ano passado e ele estava me contando sobre televisão brasileira, como ela é particularmente “inventiva” e eu até gostaria de ouvir mais sobre isso, mas...

O.H.- Talvez em outro momento.

JM: Sim, outro momento. (risos)
O.H.- O que você acha da nova geração de escritores?

JM: Qual geração de escritores?

O.H.- Bem, mais sobre os autores de Best-seller, ou mesmo, se você conhecer, alguns escritores brasileiros.

JM: Oh, bem que eu gostaria de conhecer mais sobre escritores brasileiros.

O.H.- É bem difícil conseguir um livro traduzido para a sua língua, não?

JM: Sim. Mas eu adoraria ter uma recomendação.
O.H.- Tem o Machado de Assis. Ele foi um escritor brasileiro por volta do ano de 1860 e escreveu muitos livros, pequenas histórias, crônicas dramáticas. Basicamente sobre a frustração das pessoas, ele geralmente escreve sobre isso. E tem um livro dele que é o mais famoso, “Dom Casmurro”. E o final do livro, eu não irei contar (risos), você o lê, e ainda não consegue decidir algo sobre ele.

JM: Ele era do século XIX, certo? Eu acho que essa era a idade do ouro dos escritores. Mas eu acho que, mais especificamente sobre os ingleses e franceses, era uma literatura voltada para as questões da sociedade. Todos esses escritores formaram a base para futuras séries de televisão e tramas de filmes. E nessa cultura de internet, nós estamos escrevendo uma literatura para a televisão. Aqui, nos EUA, há grandes séries, tem uma chamada “The Wire” e uma chamada de “Tramway”, pelo mesmo criador, e ambas tentam simbolizar a cidade do mesmo jeito que Charles Dickens tenta fazer no século XIX. O que Balsac tenta na França também, que englobar culturas universais...

Luana Dias - Posso tirar uma foto sua? (risos)

JM: Vá em frente.

Luana Dias - Linda.

JM: Isso seria fora do comum, mas obrigada. (risos)

O.H.- Poderia dizer sobre um livro que você gostou? Ou o mais recente que está lendo.

(procurando na bolsa... tira um kindle...)

JM: Então, eu li esse livro, “State of Wonder” de Ann Patchett. E é sobre uma cientista e a ética da ciência. Trata das diferenças entre o Primeiro Mundo e Terceiro Mundo. E eu acho que se passa em um país imaginário do Terceiro Mundo, na América do Sul, na verdade, onde as pessoas vivem em um ambiente de florestas. E estão tentando desenvolver uma droga capaz de prolongar a capacidade de uma gravidez. E algumas pessoas desaparecem, então é uma história de mistério. E há essa cientista que está disposta a encontrar a verdade, não importando o custo de vidas humanas. Traz muitas questões como se fosse algo bom prolongar em anos uma gravidez (risos). É história de aventura, com uma temática pós-industrial.

O.H.- Você gosta muito de histórias de detetives?

JM: Sim. E foi por isso que eu não gostei de Lost. Eu acredito na razão. (risos) Eu gosto de histórias racionais.

O.H.- Você já leu o livro do Stieg Larsson, “Os homens que não amavam as mulheres (The girl Who played with fire)?

JM: Eu odiei.

O.H.- Sério?

JM: Sim, eu o achei sádico. Eu não gosto do tipo. Eu saí da sala de cinema. E eu achei o livro ilegível, mas eu sei que tem pessoas que amaram, mas não funcionou pra mim. “O Código da Vinci”, eu acho que o autor não conseguia escrever nenhuma frase. Então eu o achei totalmente ilegível e muito irritante.

O.H.- Certo. Definindo em poucas palavras, o que é a literatura expandida?
JM: Eu usei essa palavra? Eu acho que usei uma mídia com um poder de junção. Poder de junção. Aqui vai uma explicação grande. (risos) É uma atividade fundamental bem antiga da humanidade. Fundamental para como o cérebro trabalha e fundamental para a construção da sociedade. Estamos engajados nisso, alguns acreditam, antes da linguagem, olhando e imitando e fazendo conexões entre os eventos. Então nós inventamos a linguagem e nós inventamos histórias épicas. Inventamos a escrita e escrevemos as histórias épicas, as comédias, livros românticos, livros religiosos, livros de entretenimento. Criamos os filmes e a televisão, e voltando alguns milênios, nós inventamos o teatro. Todo tempo, nós temos uma nova mídia representando o mundo e todo o dia a utilizamos para compartilhar histórias e para fazer histórias mais complicadas. Os filmes conseguem capturar algo que os épicos não conseguem. E o que podemos expandir? Bem, você poderia contar histórias mais internas, ou longas histórias, histórias de pessoas comuns e não de heróis. Uma história que dura mais do que duas horas, um romance sobre guerra ou paz, ou sobre indivíduos que participam das guerras napoleônicas na Rússia e na França. Então, temos agora uma mídia que captura mais estruturas.

O.H.- Temos também histórias com as quais podemos interagir, como as histórias dos vídeo games.

JM: E essa é uma poderosa temática que podemos utilizar. É também poderosa porque podemos rejogá-la, pois temos versões e por isso é importante surgir com novas invenções, mas mantendo as versões direitas. É preciso um roteiro, provido da tradição, com uma história, com personagens. É preciso ter os capítulos para continuar com os personagens e seus diálogos. É interessante como podemos colocar tudo isso junto.


English language version
 JANET MURRAY - the discussion in cyberspace

For Pedro Paulo Rosa and Jhan Lima
Photo: Luana Dias
Translation: Jhan Lima

- Well, first, I would like to congratulate you for the lecture, which was delightful to hear you and because you have different views and  likes to share that knowledge. To begin with, why did you decided to do a conference in Brazil?
Janet Murray: Oh, well ... I was invited. (Laughs) And I was excited about going to Brazil, I think the country is a wonderful and dynamic place, full of moments and it's really great to be here. And you know, I heard from many people, I had a Brazilian literature in my lab last year and he was telling me about Brazilian television, particularly as it is "inventive" and I even like to hear more about it, but ...
- Maybe some other time.
JM: Yes, another time. (Laughs)
- What do you think of the new generation of writers?
JM: What generation of writers?
- Well, more about the authors of best-selling, or even if you know some Brazilian writers.
JM: Oh, well I'd like to know more about Brazilian writers.
- It's very difficult to get a book translated into your language, isn´t?
JM: Yes, but I'd love a recommendation.
- We always have Machado de Assis. He was a Brazilian writer about the year 1860 and wrote many books, short stories, chronicles. Basically about the frustration of people, he always writes about it. And there is a book that is the most famous, "Don Casmurro." At the end of the book, I will not tell (laughs), when reading it, you still can not decide something about it.
JM: He was in the nineteenth century, right? I think that was the golden age of the writers. But I think more specifically about the English and French literature was focused on societal issues. All these writers formed the basis for future television series and movie plots. And in this culture of internet, we are writing a literature for television. Here in the U.S., there are great series, has one called "The Wire" and one called "Tramway" by the same creator, and both are trying to symbolize the city the same way that Charles Dickens tries to make in the nineteenth century. What Balsac tries in France as well, which encompass universal cultures ...
- Can I take your picture? (Laughs)
JM: Go ahead.
- Beautiful.
JM: That would be unusual, thank you. (Laughs)
- Could you tell about a book you liked? Or what is the latest reading.

(Looking in the bag ... ... takes a kindle)

JM: So, I read that book, "State of Wonder" by Ann Patchett. And it is about a scientist and the ethics of science. These differences between First World and Third World. And I think it happens in an imaginary country in the Third World, South America, in fact, where people live in a forest environment. And they are trying to develop a drug that could prolong the ability of a pregnancy. And then some people disappear, then it is a mystery. And there is this scientist who is willing to find the truth, no matter the cost in human lives. So have many issues as if is good to prolong a pregnancy in years (laughs). So it's adventure story, with a post-industrial theme.
- You really like detective stories?
JM: Yes, and that's why I did not like Lost. I believe in reason. (Laughs) I like rational stories.
- Have you read Stieg Larson's book, “The Girl Who Played with Fire”?
JM: I hated it.
- Really?
JM: Yeah, I thought it was sadistic. I do not like the type. I left the theater. And I found the book unreadable, but I know there are people who loved. It did not work for me. "The Da Vinci Code," I think the author could not write any sentence. So I found it very annoying.
- Right. Setting in a nutshell, what is the expanded literature?
JM: I used that word? I think I used a media with a power junction. Power junction. Here's a big explanation. (Laughs) It's a very old


Agradecimentos:
Patrícia Klingl